QUAIS SÃO AS FASES DA MIELOFIBROSE?
Como já vimos, a mielofibrose é uma neoplasia mieloproliferativa caracterizada pela presença de tecido cicatricial excessivo (fibrose) na medula óssea. No entanto, a deposição de tecido fibroso na medula óssea só irá ocorrer em fases tardias da doença.
Dessa forma, a história natural da mielofibrose é caracterizada por uma evolução gradual de um estágio inicial precoce, com ausência de fibrose, para um estágio fibrótico evidente, caracterizado por deposição acentuada de fibras de reticulina e colágeno na medula óssea.
FASE PRÉ-FIBRÓTICA OU FASE CELULAR DA MIELOFIBROSE
A princípio, os hematologistas classificam a fase precoce da mielofibrose de fase celular, fase proliferativa ou fase pré-fibrótica. Nessa etapa, as células-tronco hematopoéticas produzem as células sanguíneas de forma desenfreada, com aumento acentuado do número de plaquetas (trombocitose) e/ou leucócitos (leucocitose) no sangue periférico.
Nesse estágio, os pacientes são assintomáticos e geralmente os médicos detectam essa doença de forma ocasional, quando se realiza um hemograma de rotina. No entanto, os pacientes apresentam risco elevado de trombose na fase pré-fibrótica. Por exemplo, uma pessoa com MF pode apresentar trombose venosa de membros inferiores, tromboembolismo pulmonar ou até mesmo trombose arterial, com presença de infarto do coração e derrame cerebral.
Com o passar dos anos, a produção acelerada das células troco-hematopoéticas estimula os fibroblastos a produzirem fibras de reticulina e colágeno. Estes são os principais componentes do tecido cicatricial depositado na medula óssea.
Quando o tecido fibrosado é excessivo, as células-tronco hematopoéticas são expulsas da medula óssea para circulação sanguínea e se hospedam em outros órgãos, preferencialmente o baço e o fígado. Dessa forma, essa fase é chamada de fase fibrótica da mielofibrose.

MIELOFIBROSE – FASE FIBRÓTICA
Na fase fibrótica, após se alojarem no baço, as células-tronco hematopoéticas continuam a se proliferar de forma acelerada. O baço aumenta gradualmente de tamanho até atingir formas extremamente volumosas, que ultrapassam os limites da cicatriz umbilical.
Uma vez que o baço começa a contribuir na produção das células sanguíneas, é possível detectar células sanguíneas mais jovens da série branca (mielócitos e metamielócitos) e vermelha (eritroblastos) no sangue. Os hematologistas chamam esse processo de reação leucoeritroblástica. Além disso, a forma das hemácias é modificada, com a presença de “hemácias em lágrima” na circulação.
Ao chegar nessa fase, as células-tronco começam a sofrer novas mutações e ficam “esgotadas”. Dessa forma, elas param de produzir as células sanguíneas e os pacientes começas a apresentar um quadro de hematopoese ineficaz, com desenvolvimento de anemia e plaquetopenia.
FASE BLÁSTICA DA MIELOFIBROSE
Em cerca de 15% dos pacientes, essas novas mutações podem provocar um completo bloqueio de diferenciação das células-tronco. Dessa forma, irá ocorrer um acúmulo de células imaturas (blastos) na medula óssea e na circulação sanguínea. Quando o número de blastos é superior a 20% do total de células, dizemos que ocorreu uma transformação leucêmica da mielofibrose, que agora é classificada como fase blástica (leucemia aguda).
Veja mais: O que é a mielofibrose?
Eu estou fazendo o meu TCC da mielofibrose. E gostaria de ter mais informações sobre o mesmo. vejo que tem muita pouca literatura do assunto.
Bom dia Vanusa,
Tudo bom? Realmente temos ainda poucos trabalhos publicados nacionalmente, mas a literatura internacional é muito ampla.
Segue abaixo alguns artigos de revisão que podem te ajudar no seu TCC:
1. Primary myelofibrosis: 2021 update on diagnosis, risk-stratification and management. Tefferi A. Am J Hematol. 2021 Jan;96(1):145-162. doi: 10.1002/ajh.26050.
link: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/ajh.26050
2. A provider’s guide to primary myelofibrosis: pathophysiology, diagnosis, and management. Garmezy B, Schaefer JK, Mercer J, Talpaz M. Blood Rev. 2021 Jan;45:100691. doi: 10.1016/j.blre.2020.100691
link: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0268960X20300412?via%3Dihub
3. Myelofibrosis biology and contemporary management. Gangat N, Tefferi A. Br J Haematol. 2020 Oct;191(2):152-170. doi: 10.1111/bjh.16576.
link: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/bjh.16576
Espero ter te ajudado.
Um abraço,
Alex
Bom dia.
Fui diagnosticada com mielofibrose pela médica hematologista do SUS que fui encaminhada, mas cheguei lá com diagnóstico de trombocitemia.
Estou na fase préfibrótica mas não estou conseguindo levar fé nesta médica.
O Sr. Poderia me dar alguma orientação?
Desde já agradeço.
Olá Anatálie,
Tudo bom? Tanto as pessoas com mielofibrose pré-fibrótica, quanto as pessoas com Trombocitemia Essencial, apresentam aumento do número de plaquetas, uma situação que pode confundir no diagnóstico inicial. Apenas com o resultado da biópsia de medula óssea é possível distinguir entre as duas doenças e fazer o diagnóstico correto.
Espero ter ajudado a esclarecer sua dúvida.
Um abraço,
Alex
Olá! Quero agradecer pela matéria explicativa. Gostei muito! E, aproveito a oportunidade pra perguntar: é possível aumento exponencial das 3 séries hematopoiéticas ( hemácias 15,2/ leucócitos 11 mil/ plaquetas 860-930 mil) com diagnóstico de PV e biópsia de medular de normocelularidade para hipercelularidade acima da média, estar mudando pra mielofibrose pre-fibrotica?
Estou com MF-1 segundo a biópsia. Mas fico preocupado com essa evolução da doença, as fases acontecem rápidas? Obrigado, Dr.!
Compreendo a sua preocupação com a evolução da mielofibrose (MF). A categoria MF-1 indica geralmente indica uma fase inicial da doença.
A velocidade com que a mielofibrose progride pode variar significativamente de paciente para paciente. Alguns indivíduos podem viver muitos anos com uma forma estável da doença, enquanto em outros, a doença pode progredir mais rapidamente. Fatores que podem influenciar a velocidade de progressão incluem a carga genética (como mutações específicas), a idade do paciente, a presença de sintomas B (perda de peso, febre, sudorese) e alterações do hemograma, como anemia acentuada, plaquetopenia e presença de blastos circulantes.
É importante manter um acompanhamento regular com seu hematologista. Esse acompanhamento geralmente inclui exame físico, análises laboratoriais (como contagens sanguíneas completas e testes genéticos e moleculares), e às vezes exames de imagem. O objetivo é monitorar a evolução da doença, gerenciar os sintomas, e ajustar o tratamento conforme necessário. Também é fundamental discutir com seu médico as opções de tratamento. Dependendo da sua situação específica, o tratamento pode variar de observação cuidadosa a medicamentos específicos, como inibidores da JAK2, ou em casos mais avançados, até mesmo transplante de medula óssea.
Por fim, lembre-se de que muitos pacientes conseguem manter uma boa qualidade de vida com o tratamento e o acompanhamento adequados.
Boa Tarde,
Gostaria de saber se o medicamento jakavi consegue de alguma forma controlar o desenvolvimento da fibrose.
Entendi que, além de tratar alguns sintomas, ele atua sobre a enzima liberada pela mutação Jak2, mas não estou segura disto.
Outra dúvida: a partir do momento que a doença vai evoluindo, em algum momento ela vai tomar conta de 100% da medula? Se sim, Baço e Fígado podem fazer o papel de produção das céculas?
Prezada Gisele,
O Jakavi (ruxolitinibe) é um medicamento utilizado no tratamento de algumas neoplasias mieloproliferativas, como a mielofibrose primária, a policitemia vera e outras doenças relacionadas à mutação JAK2. O ruxolitinibe atua como um inibidor da JAK2, uma enzima que, quando mutada, pode levar a uma produção anormal de células sanguíneas. Ao inibir essa enzima, o Jakavi pode ajudar a controlar a proliferação excessiva de células sanguíneas e aliviar sintomas associados.
Quanto à sua pergunta sobre a fibrose, o Jakavi tem mostrado alguma eficácia em reduzir a fibrose medular em alguns pacientes, mas os resultados podem variar. É importante lembrar que a mielofibrose é uma condição progressiva, e o tratamento com Jakavi pode não reverter completamente a fibrose existente. A principal meta do tratamento é controlar os sintomas e retardar a progressão da doença.
Sobre a evolução da doença, em casos avançados de mielofibrose, a doença pode, de fato, afetar uma grande parte da medula óssea. Em resposta, órgãos como o baço e o fígado podem começar a assumir algumas funções de produção de células sanguíneas, um processo conhecido como hematopoese extramedular. No entanto, essa compensação não é ideal e pode levar a complicações adicionais.
É crucial discutir essas questões com o seu médico hematologista, pois eles podem fornecer informações mais detalhadas e específicas para o seu caso, incluindo a avaliação da resposta ao tratamento com Jakavi e o monitoramento da progressão da doença.
Ola minha mãe fez punçao de medula e o resultado foi mefula com acentuada miemofibrose. Apresenta hemograma alterado com presença de celulas blasticas, mielocitos, metamielocitos, leucocitos altos 33mil, hemacias em lagrimas e eritroblacitos … Fez tc abdominal e baço e figado deram normais…sem estarem aumentados. Isto pode também acontecer ou a tc pode nao ser confiavel ?
Prezada Danielle, tudo bom? Sim, pode acontecer. Em alguns casos, o aumento do volume do baço só aparece em fases mais tardias da evolução da doença.